2020 era para ser um ano de ouro para o setor sucroenergético, mas poderá ser de prata
A afirmação é de Alexandre Andrade Lima, presidente da Federação dos Produtores de Cana do Brasil (Feplana), presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) e presidente da Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana (Coaf)
“A expectativa que tínhamos para 2020 é que seria um ano de ouro para o setor sucroenergético. Com ótimos preços para o açúcar e etanol. Um ano que há muito tempo sonhávamos e que viria para dar um alívio, após longo tempo de crise”, diz Alexandre Andrade Lima, presidente da Federação dos Produtores de Cana do Brasil (Feplana).
No entanto, a queda drástica do valor do barril do petróleo no mercado internacional, para menos de zero dólar e, principalmente, a pandemia do novo Coronavírus levaram ao solo as ótimas perspectivas. “Logo que começou a pandemia, o isolamento e a queda da demanda por combustíveis, ficamos muito preocupados. Era um cenário nunca antes visto. Mas, passados três meses, estou bem mais animado, o açúcar está remunerador, e com o dólar valorizado ficou melhor ainda. Cerca de 90% das usinas já fixaram o açúcar e por um bom preço, muitas por R$ 1.400,00 reais a tonelada”, observa Alexandre Andrade Lima.
A demanda por etanol também começa a crescer, assim, como o preço. Alexandre, que também é presidente da Cooperativa do Agronegócio dos Fornecedores de Cana (Coaf), unidade sucroenergética localizada em Timbaúba, PE, conta que antes da pandemia, a usina comercializava o etanol pelo valor de R$ 2,20 o litro, porém, logo no começo da Pandemia, não havia para quem vender o etanol. Os compradores sumiram e notícias de quebra de contrato por parte de distribuidoras foram divulgadas. Correu no setor a possibilidade de não ter onde estocar etanol e algumas unidades cogitaram não iniciarem a safra 2020/21.
Alexandre informa que, quando reiniciaram as compras de etanol, o valor pago foi de R$ 1,70 o litro sem impostos, atualmente, a Coaf está comercializando o litro do etanol por R$ 1,95. “Então já está melhorando. Além do maior direcionamento da cana para a produção de açúcar, grandes grupos estão estocando o combustível para coloca-lo no mercado quando o preço estiver mais valorizado. Esses mecanismos reduzem a oferta de etanol e equilibram o preço. Para melhorar, o barril do petróleo já está na casa dos 40 dólares e, como o câmbio está alto, o combustível verde se mantém economicamente viável em relação ao combustível fóssil.”
O temor da queda do valor da ATR (açúcar total redutor) paga aos fornecedores de cana, em decorrência do baixo preço dos produtos da cana, foi amenizado. “A fixação que as usinas fizeram do açúcar por um bom valor, foi fundamental para melhorar a remuneração da cana do fornecedor. Então, estamos em um bom momento, os canaviais apresentam alto índice de ATR e preço remunerador”, diz Alexandre que também ocupa a função de presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP).
O cenário preocupante no início da pandemia, havia levado o setor a apresentar ao governo federal uma pauta de reivindicações para amenizar a crise que se avizinhava. Foram solicitadas medidas como: linha de financiamento para estocagem de etanol; aumento da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), incidente sobre a gasolina, para melhorar a competitividade relativa do biocombustível, e a redução ou isenção do PIS/Cofins sobre o etanol. As medidas não foram aceitas pelo governo.
Perguntado se com essa melhora do cenário o setor ainda necessita da aprovação dessas reinvindicações, Alexandre responde que talvez apenas a linha de financiamento para a estocagem de etanol, pois 30% das unidades sucroenergéticas brasileiras só produzem etanol e, com isso, não estão sendo favorecidas pelos bons preços do açúcar. “O Plano Safra 2019/2020, lançado pela Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no último dia 18, contempla uma linha de crédito menor para as usinas, mas as que não apresentarem a Certidão Negativa de Débitos (CND), não têm acesso ao crédito. E se não tiverem capitalizadas não poderão tocar a atividade.”
Com tudo isso, Alexandre vê 2020 para o setor sucroenergético com bons olhos. “Não será o ano de ouro que esperávamos, mas, pelo menos, poderá ser um ano de prata. Frente a todas adversidades que surgiram de uma hora para outra, estamos saindo no lucro.”
Fonte: CanaOnline