Alta de custos afeta resultados das usinas
As usinas de cana do Centro-Sul do Brasil, principal região produtora do país e do mundo, deverão se defrontar, no fim desta safra 2018/19, que terminará em março, com muitos números negativos em seus balanços.
A quebra na safra de cana impediu que o segmento diluísse seus custos, que voltaram a crescer nesta temporada enquanto os preços dos produtos vendidos não conseguiram remunerar o custo do capital investido - e, em alguns casos, sequer cobriram o custo para manter as indústrias funcionando.
Pressionados por altas sobretudo dos fertilizantes e do óleo diesel, além do aumento de gastos relacionados à mecanização, o custo médio de produção por tonelada de cana processada subiu acima da inflação de 2018. Considerando o processamento de cana desde o início da temporada, em abril, até 15 de dezembro, o custo médio ficou em R$ 127,41 por tonelada moída, um incremento nominal de 6,86% em relação à média da safra passada.
Os dados fazem parte do "Levantamento de Custos de Produção de Cana-de-açúcar, Açúcar, Etanol e Bioeletricidade", realizado pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com a Organização de Plantadores de Cana-de-Açúcar do Centro-Sul do Brasil (Orplana).
No levantamento, foram pesquisadas 88 usinas, que processaram cerca de 200 milhões de toneladas de cana no período.
A maior parte dos custos do segmento sucroalcooleiro é fixa, proveniente de colhedoras e manutenção da indústria na entressafra, por exemplo. Segundo o Pecege, na área agrícola, que absorve 70,8% de todos os custos de uma usina, os custos fixos representam 86% do total. A parcela fixa dos custos também é elevada nas áreas industrial (75%) e administrativa (50%). Essa estrutura de custos, portanto, torna imperativo que as empresas busquem maximizar sua produção para diluir o custo relativo. Mas o que acontece nesta safra é exatamente o contrário.
No Centro-Sul, a moagem de cana diminuiu 4% até 15 de dezembro, para 557 milhões de toneladas, segundo dados da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). E, conforme o Pecege, o volume de cana processada deve fechar a temporada com queda de 4,36%, a 570 milhões de toneladas. Essa redução reflete a seca prolongada no primeiro semestre do ano passado e os baixos investimentos nas lavouras.
"Na safra 2018/2019, o menor volume de cana processada e, consequentemente, a maior ociosidade dos ativos industriais pressionaram os custos de processamento da cana-de-açúcar no período", ressaltou Haroldo Silva, gestor de projetos de Pecege, em relatório.
As operações de vendas de açúcar foram as mais afetadas, já que os preços da commodity mantiveram-se nos menores níveis em dez anos por causa da sobreoferta global - provocada, em grande medida, pela produção da Índia.
Os preços médios em reais do açúcar VHP não conseguiram superar nem os custos operacionais, que ficaram em média em R$ 967,53 a tonelada. O custo médio total para a produção de açúcar, que inclui depreciação e custo de capital, atingiu, em média, R$ 1.288,40 por tonelada.
Nas últimas dez safras, o açúcar só ofereceu remuneração acima do custo de capital em quatro. A última safra em que a margem líquida média do açúcar ficou positiva foi a 2016/17, quando as cotações dispararam em meio a um déficit de oferta global. Na safra passada, os preços só pagaram os custos operacionais, mas não superaram a depreciação e o custo de capital.
No caso do etanol, a situação foi menos pior. Os preços médios praticados pelo etanol hidratado (o mais vendido nesta safra) até superaram os custos operacionais, mas não chegaram a pagar toda a depreciação dos ativos nem o custo do capital. Enquanto o preço médio até 15 de dezembro ficou em R$ 1.771 por metro cúbico, o custo total de produção ficou, em média, em R$ 2.065 por metro cúbico.
Silva ressalta, porém, que essa análise se trata de uma média a respeito de um setor muito heterogêneo, dado que, enquanto algumas usinas estão na espiral negativa de baixos investimentos, outras têm conseguido manter bons patamares de investimento para reduzir seus custos.
Existem também os casos das usinas que vendem eletricidade cogerada do bagaço da cana. Os negócios de cogeração nesta safra geraram uma receita incremental de R$ 23,9 milhões ao setor, e permitiram às usinas com atuação nessa área encerrar o período com resultados melhores.
Para 2019/20, safra que terá início em abril, o Pecege estima que a produtividade agrícola pode ter "recuperação marginal", mas que a pressão de custos aumentará devido à expectativa de alta do preço dos agrotóxicos.
Texto extraído do boletim SCA
Fonte: Valor Econômico