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Cana de ano pode ser bastante produtiva e gerar lucro antecipado, principalmente se for irrigada por gotejo

Cana de ano pode ser bastante produtiva e gerar lucro antecipado, principalmente se for irrigada por gotejo

Irrigação por gotejamento permite encaixar janelas de plantio fora dos períodos convencionais e independente do regime de chuvas. Tecnologia eleva potencial da cana de ano, levando-a a atingir produtividades que a equiparam a de 18 meses, mas com retorno financeiro mais rápido

Leonardo Ruiz

O censo de intenção de plantio conduzido pelo Programa Cana IAC revelou que o setor gosta mesmo é de plantar cana de verão. A estimativa, divulgada durante a 7ª Reunião do Grupo Fitotécnico de Cana de 2021, é que 61% dos 929 mil hectares recenseados e plantados entre abril de 2021 e março de 2022 tenham sido cobertos com canas de 18 meses. A maior produtividade desse tipo de plantio e as incertezas em relação às chuvas acabam afastando possíveis adeptos da cana de primavera (cana de ano), que vem registrando quedas consecutivas nos últimos anos, chegando à safra passada com apenas 9% de utilização. Na área restante (30%), foi utilizada a cana de outono/inverno.

O consultor associado da Canaplan, Nilceu Piffer Cardozo, explica que a preferência pela cana de verão ocorre em função de ser, em condições normais, o plantio que reúne as melhores práticas de manejo e condições ambientais. Maior tempo disponível para o preparo e correção do solo, controle de pragas e plantas daninhas, período superior para estabelecimento do canavial e operação dentro de um regime hídrico mais previsível estão entre os fatores alavancadores dessa modalidade. “O excesso de chuvas em janeiro e fevereiro dificulta ou até impossibilita o plantio da cana de 18 meses nesse período. Dessa forma, a melhor janela vai do final de fevereiro ao início de abril, quando as chuvas já deram uma trégua e o solo tem umidade para garantir a brotação. Além disso, essa cana entrará na época seca com estande, mas sem entrenós formados, fazendo com que ela não sinta tanto os efeitos da estiagem.”

Cana de ano já representou 25% do plantio de cana-de-açúcar. Hoje, volume não chega a 10%

Fonte: Divulgação Programa Cana IAC

Mas o grande problema dessa modalidade é quando a pluviosidade não segue o planejado. No final de 2020, por exemplo, as chuvas começaram ‘para valer’ a partir de novembro, com bons volumes também no mês seguinte. Contudo, houve grande variabilidade na distribuição das chuvas e um período de seguidos veranicos em janeiro e fevereiro de 2021. Com isso, o armazenamento de água no solo atingiu níveis muito baixos, refletindo inclusive nas culturas intercalares (como soja e amendoim), as quais, apesar de plantadas com atraso ao final de 2020, adiantaram seu ciclo e acabaram sendo colhidas mais cedo do que o imaginado em 2021.

A irregularidade das chuvas em janeiro e fevereiro de 2021 até beneficiou a operação de plantio nesse período, mas a continuidade da seca nos meses subsequentes gerou graves problemas. Plantios realizados nesse período apresentaram muitas falhas. E a cana plantada nos dois primeiros meses do ano, por apresentar maior porte no período de outono/inverno, sofreu mais intensamente com os efeitos da estiagem. Com o solo seco, a estrutura de irrigação das usinas, que na maioria do Centro-Sul se confunde com a estrutura de fertirrigação (vinhaça), não foi suficiente para garantir a brotação das áreas nem o salvamento daquelas já brotadas. O resultado foi um plantio repleto de falhas e que hoje é uma das grandes dúvidas da safra 2022/23.

Segundo Nilceu Piffer Cardozo, a irregularidade das chuvas em janeiro e fevereiro de 2021 até beneficiou a operação de plantio nesse período, mas a continuidade da seca nos meses subsequentes gerou graves problemas

Foto: Arquivo CanaOnline

Mesmo as usinas que alcançaram excelência no plantio em 2021 enfrentaram problemas posteriormente. As geadas do meio do ano provocaram seguidas penalizações às brotações iniciais de plantios, além de colheitas precoces. “Em algumas áreas, parecia que tinham roçado quimicamente o canavial. Embora as geadas não possam ser responsabilizadas isoladamente, o vigor das plantas para uma nova rebrota diminuía a cada evento, ainda mais com a seca que se tornava cada vez mais intensa. O somatório das adversidades levou a prejuízos muito significativos”, frisou Cardozo.

A cana de ano plantada na primavera seria uma alternativa para fugir dessas intempéries, cada vez mais frequentes nos últimos anos. No entanto, essa modalidade também esbarra na questão climática. O consultor associado da Canaplan explica que, normalmente, a cana de ano é aquela que terá boas garantias de brotação e desenvolvimento inicial em função de ser realizada próximo do retorno das chuvas na primavera (ou quando já consolidadas) e aumento da precipitação no verão.

Mesmo as usinas que alcançaram excelência no plantio em 2021 enfrentaram problemas posteriormente. As geadas do meio do ano provocaram seguidas penalizações aos canaviais

Foto: Arquivo CanaOnline

No entanto, apenas sua boa “arrancada” não é garantia de alta produtividade. Um dos problemas é que, durante as fases iniciais de seu desenvolvimento, quando sua estrutura é pequena e, portanto, com menor demanda por recursos hídrico, haverá excesso de água por praticamente toda a primavera e verão. Por outro lado, após tantos meses de ‘bonança climática’ - isso se não ocorrer veranicos -, esses canaviais entrarão no período seco do ano no auge de seu desenvolvimento e ápice de seu consumo hídrico, fazendo com que os efeitos da estiagem sejam sentidos de forma ainda mais intensa. “Esses fatos, aliados ao seu menor tempo para desenvolvimento, são os motivos por trás de sua menor produtividade em sequeiro e, consequentemente, menor adoção.”

Irrigação por gotejamento eleva potencial da cana de ano e permite retorno financeiro em um ano

A solução para os entraves que atrapalham a maior adoção da cana de ano passa pelo uso da irrigação racional, da qual o gotejamento subterrâneo desponta como a modalidade de maior eficiência, uma vez que entrega as quantidades ideais de recursos hídricos e nutricionais diretamente às raízes da planta, de acordo com o desenvolvimento da cultura e às demandas específicas de cada momento.

Na visão do consultor associado da Canaplan, Nilceu Piffer Cardozo, uma irrigação por gotejamento elevaria o potencial da cana de ano, levando-a a atingir produtividades que a equiparariam a de 18 meses, cujas médias podem ultrapassar 120 toneladas por hectare (TCH). “Além de potencializar o desenvolvimento desse canavial, essa técnica permite ainda antecipar o plantio para agosto. No sistema de cana de ano tradicional, muitas vezes é necessário aguardar o retorno das chuvas. Mas, caso exista irrigação na área, o plantio pode ser adiantado, com ganhos significativos em termos de crescimento e produtividade.”

A solução para os entraves que atrapalham uma maior adoção da cana de ano passa pelo uso da irrigação racional, da qual o gotejamento subterrâneo desponta como a modalidade de maior eficiência

Foto: Divulgação Netafim

Além de elevar exponencialmente os números de produção, o consultor associado da Canaplan relata outros benefícios dessa prática, como o aumento da oferta de cana na segunda metade da safra, período em que os canaviais de sequeiro estariam sofrendo os maiores efeitos da estiagem. “Afinal, a pior seca é a do dia seguinte, ou seja, ela é cumulativa e sempre piora até que haja o retorno por completo das chuvas”, observa Cardozo.

Outro ponto destacado foi a questão da produção de mudas para os plantios de 18 meses e inverno, fator destaque na safra 2022/23. “Com a cana de ano irrigada, posso produzir mudas de melhor qualidade, em maior quantidade e mais rapidamente do que em áreas de sequeiro, muitas vezes duas vezes ao ano dependendo da região. Em alguns casos, a cana de ano irrigada por gotejo, com cinco ou seis meses, se assemelha a um canavial de 10 meses em sequeiro. Com isso, constitui uma ferramenta importante para a sustentabilidade do setor, que garante produtividade, longevidade e oferta de matéria-prima ou muda em momentos estratégicos e de grande volatilidade. É como um seguro, com o diferencial de que, precisando ou não, acabará por gerar benefícios todos os anos ao produtor”.

Usinas que adotaram a irrigação por gotejamento e a dirigiram para áreas formadas com cana de ano estão colhendo canaviais de 12 meses com altas produtividades

Foto: Divulgação Netafim

Empresa pioneira e líder mundial em soluções para irrigação, a Netafim possui a tecnologia certa para alavancar seu plantio, que não precisará mais ficar dependente do regime hídrico da sua região e restrito às canas de ano e meio. “Com nossa tecnologia, é possível encaixar as janelas de plantio fora dos períodos convencionais e independente do regime de chuvas, aproveitando em sua totalidade o melhor período para o desenvolvimento da cana-de-açúcar, que vai do final de agosto ao início de abril”, frisa o especialista agronômico da companhia, Daniel Pedroso.

O profissional ressalta que além de controlar a disponibilidade dos recursos hídricos, a tecnologia da Netafim permite a aplicação de moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos através dos mesmos equipamentos de injeção de água.  Essa nutrirrigação permite ao agricultor aprimorar sua adubação convencional, aplicando parte dos nutrientes de forma mais parcelada visando suprir a necessidade da planta para seu pleno desenvolvimento e produção.

Daniel Pedroso: “Com nossa tecnologia, é possível encaixar as janelas de plantio fora dos períodos convencionais e independente do regime de chuvas, aproveitando em sua totalidade o melhor período para o desenvolvimento da cultura, que vai do final de agosto ao início de abril

Foto: Divulgação Netafim

Pedroso salienta que esse conjunto de fatores levarão a uma colheita realizada no ponto ideal de maturação daquele canavial (12 meses), com alta produtividade, sem quedas de ATR (Açúcar Total Recuperável) - fato comum na cana de 18 meses –, redução dos custos com aplicação de fitossanitários e um retorno financeiro em menos de um ano após o plantio.

Lembrando que a experiência da Netafim em irrigação é fruto da vivência com a escassez hídrica em seu país de origem, Israel, onde os avanços em irrigação transformaram desertos em lavouras altamente produtivas. Atualmente, a empresa oferece duas modalidades tecnológicas de gotejo para cana-de-açúcar. Em canaviais comerciais, é recomendada a irrigação por gotejamento subterrânea. Já em viveiros (Cantosi ou Meiosi), é possível instalar as mangueiras e tubos gotejadores de forma superficial e movê-los para novas áreas sempre que necessário. As soluções podem ser instaladas de pequenos a grandes canaviais.

Usinas começam a enxergar benefícios de plantar cana de ano aliada a irrigação por gotejamento

O engenheiro agrônomo Gean Geronimo, que foi um dos responsáveis pelo processo de implantação do eficiente modelo híbrido de irrigação da Bevap, unidade João Pinheiro/MG, conta um pouco sobre os grandes benefícios da adoção da dobradinha “cana de ano + irrigação”. “Esse modelo híbrido de irrigação trouxe tanto sucesso para a Bevap que eles já nem ao menos possuem canas de 18 meses. Toda a matéria-prima processada é proveniente de cana de ano – plantada entre maio e dezembro – e com produtividades que atinge facilmente a casa das 150 toneladas por hectare no sistema gotejamento.”

100% das áreas da Bevap de João Pinheiro/MG são formadas com cana de ano aliada a irrigação. Dessa forma, companhia garante alta produtividade e uniformidade na produção ao longo de toda a safra

Foto: Divulgação Bevap

Lembrando que a companhia mineira é detentora de uma das maiores áreas irrigadas de cana-de-açúcar do mundo. No local, diferentes sistemas (Hidro roll, pivôs de diversos modelos e o gotejamento subterrâneo) são utilizados para irrigar aproximadamente 30 mil hectares somente nesta unidade de João Pinheiro.

Esse bom exemplo de irrigação e plantio de cana de ano está, gradativamente, sendo seguido por outras usinas brasileiras. A Usina Santa Vitória, no município de Santa Vitoria/MG, da qual Gean Geronimo é o atual Gerente Agrícola, já deu início ao processo de implantação desse novo sistema de manejo. Os primeiros 200 hectares com cana de ano irrigados foram plantados em setembro do ano passado e a expectativa é aumentar mais 600 hectares no próximo ano.

Possibilidade de fazer cana sobre cana, padronização da produção e aumento da longevidade dos canaviais estão entre os benefícios almejados pelas usinas ao apostar na dobradinha cana de ano + irrigação

Foto: Arquivo CanaOnline

“A grande vantagem da cana de ano é a possibilidade de fazer cana sobre cana. Dessa forma, não temos mais o ‘ano improdutivo’, no qual fazíamos a renovação do canavial e só colheríamos no próximo ano. Agora, todo ano tem colheita em cada hectare. O único obstáculo para o sucesso desse modelo é a disponibilidade de irrigação, vital para garantir a brotação.”

Geronimo destaca outros importantes benefícios, como padronização da produção e o aumento da longevidade do canavial, que salta de cinco para doze cortes. “Muitas empresas ainda não partiram para esse modelo devido ao forte investimento na implantação e aos custos de manutenção dos novos equipamentos. Porém, mesmo com os recentes aumentos do aço; o payback de uma tecnologia de gotejamento é de apenas 3,5 anos. Isso é fantástico.”

 

 

Fonte: CanaOnline

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