Dívida impagável aumenta o número de usinas que serão colocadas à venda
Empresas serão forçadas a ingressar no mercado disponibilizando seus ativos para venda
*Marcos Françóia
O impacto das crises econômicas provoca grandes rachaduras nos relacionamentos societários e familiares e nessa hora a liderança tem que focar em soluções que passam entre escolher se deteriorar e se acabar ao longo do tempo, ou salvar o que for possível no curto prazo. Mesmo que seja repassando o ativo, ou convivendo com as incertezas de uma recuperação judicial.
Desde outubro de 2017 que venho alertando nos temas discorridos nessa coluna sobre os pontos nevrálgicos do setor e da direção arriscada que muitas empresas estão seguindo, procrastinando decisões que impactam em admitir a perda para perder menos. E não precisa ser um estudioso no assunto para entender o obvio, que é facilmente observado por quem transita entre os números desse mercado.
Nos temas publicados na revista CanaOnline, falei sobre os desafios do setor para a próxima década, falei a respeito da qualidade de gestão que está inviabilizando algumas empresas e sobre o crescente endividamento que está distanciando cada vez mais as empresas prósperas das que lutam para sobreviver. Também abordei as previsões de 2018 e as principais dúvidas que impactam nas decisões dos gestores. Temas estes que nos últimos dois meses, com o início da safra no centro-sul, tem sido amplamente debatido pelo mercado, mostrando que o que se trata aqui nessa coluna não é fruto de especulação, mas de estudos e ações práticas.
Assim como também é fato que a consolidação tende a aumentar, com investimentos destinados a capitalização de empresas que demonstram viabilidade operacional e qualidade na gestão. Investimentos estes feitos por investidores que aceitam esperar o retorno que virá no longo prazo. E digo que a consolidação tende a aumentar, pois já está acontecendo de forma silenciosa, que é quando as empresas mais capitalizadas investem no canavial de empresas que não têm mais fôlego para honrar com seus compromissos de arrendamento e cana de terceiros, e/ou até mesmo na lavoura própria das empresas que já desistiram de colocar o seu parque industrial em operação, passando a ser apenas fornecedores de cana.
Nessa linha de dificuldades, algumas empresas serão forçadas a ingressar no mercado disponibilizando seus ativos para venda, para não entrarem em um processo de esfacelamento do seu ativo total. Algumas das quais já passaram por um processo de reestruturação financeira e não estão cumprindo com os acordos de curto prazo e outras que passaram pelo mesmo procedimento, mas não tiveram a coragem de passar pelo processo de reestruturação organizacional, continuando a lutar com resultados operacionais que não sustentam o serviço da dívida.
É fato que o endividamento do setor é impagável para muitas empresas e aumentará o indicador de referência do endividamento - “R$/tonelada” - na safra atual, isso pelo aumento na capitalização dos juros e falta de pagamento de Principal, além da menor quantidade de cana no dividendo da conta.
Que venham então os investidores para a manutenção do emprego, da renda e hegemonia brasileira na produção de açúcar e etanol. E que estes escolham os melhores projetos e melhores equipes de avaliação para que não se repitam alguns erros do passado adquirindo “gato por lebre”.
Teremos um ano difícil e estratégico para o setor e sua cadeia produtiva.
*Marcos Françóia - GRANT THORNTON & MBF AGRIBUSINESS
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Fonte: CanaOnline