Mesmo com o Covid-19, para o setor sucroenergético 2020 poderá ser um bom ano
É a expectativa do economista Marcos Fava Neves que aponta vários fatores positivos que sustentam esse seu otimismo
Os habitantes do universo sucroenergético têm vivido um rali de emoções. A entrada de 2020 trouxe com ela a expectativa de que seria um dos melhores anos da história da agroindústria canavieira, apontado como a largada da retomada do setor, após mais de 10 anos de crise.
O ano apresentava bom cenário para o açúcar, etanol batendo recordes de consumo e o início do RenovaBio, programa governamental de incentivo aos biocombustíveis, que irá remunerar os combustíveis verdes que em sua produção emitem menos carbono.
Mas, nem bem começou 2020 e acontece o primeiro baque: o preço internacional do petróleo desaba, chegando, pela primeira vez na história a ficar negativo. Com isso, coloca em risco a competitividade do etanol em relação a gasolina, resultando em redução do consumo.
No entanto, um choque ainda maior estava por vir: a pandemia mundial do novo Coronavírus, o Covid-19, que, a partir de março no Brasil, levou ao isolamento social, e a queda drástica da demanda de combustível, energia e até açúcar. As primeiras análises apontavam que o sucroenergético, mesmo sendo liberado para manter suas atividades, por estar na lista de setores essenciais, era um dos segmentos do agronegócio mais afetado pela pandemia. Imediatamente surgiram notícias de que usinas não iriam iniciar a safra, milhares de empregos seriam fechados, que o preço da cana para o produtor iria ruir, cana ia ficar em pé, o RenovaBio foi ameaçado de não acontecer e até distribuidoras de combustíveis cancelaram contratos de compra de etanol.
Mas, segundo o professor, economista e especialista em agronegócio Marcos Fava Neves, por incrível que pareça, chegamos em junho com um cenário muito favorável para o setor. Durante evento digital de comemoração dos 60 anos da Valtra, em uma apresentação na última quarta-feira, 17, Fava Neves apresentou dados otimistas. Ressaltou que o preço do barril do petróleo voltou para a casa dos 40 dólares. Para ele, nos próximos tempos, o valor do barril deve estabilizar entre 45 e 50 dólares. E com a alta valorização da moeda americana, que em sua análise, em dezembro de 2020, deve ser cotada em R$ 4,56, deixa o etanol competitivo em relação à gasolina.
A valorização da moeda americana em conjunto com os menores estoques de açúcar no mundo, também são responsáveis por esse quadro mais positivo do setor. Na visão de Fava Neves, o setor fez muito bem ao fixar os preços para exportações do açúcar. As usinas do país se aproveitaram das mínimas históricas do real frente ao dólar nos últimos meses para garantir lucros, conectando as posições vendidas na ICE a contratos a termo de moeda sem entrega física (“Non Deliverable Forward”, ou NDF, em inglês).
O Especialista destaca que o setor não fechou contrato de vendas do açúcar apenas para esta safra, mas já comercializou as próximas três safras. Fava Neves deu como exemplo números de uma usina que ele tem bastante contato. “Para a safra 20/21, a tonelada de açúcar foi comercializada a R$ 1300,00, na safra 21/22 o valor é de R$ 1400,00 e para a safra 22/23 o valor da tonelada será de R$ 1480,00. No caso do litro de etanol, vendeu em maio a R$ 1,70 e em junho por R$ 1,95.”
O bom desempenho da safra canavieira na região Centro-Sul também foi abordado por Fava Neves, salientando que a produção da safra 2019/20 foi de 590 milhões de toneladas, e que a atual deve ser de 600 milhões. “A diferença no volume é pequena, mas a qualidade da cana está bem melhor, o ATR (açúcar total redutor) está 6,7% maior que o do ano passado neste mesmo período. O que permite ao setor produzir mais açúcar sem reduzir a produção de etanol.”
No acumulado desde o início da safra 2020/2021 até 1º de junho, o aumento na produção de açúcar alcançou 65,10%, somando 8,02 milhões de toneladas. No mesmo período do ano passado a produção era de 5 milhões de toneladas. Já o volume de produção de etanol acumulado desde o início da safra 2020/2021 até 1º de junho totalizou 6,20 bilhões de litros, praticamente o mesmo valor registrado em igual período do ciclo anterior (6,22 bilhões de litros).
Fava Neves observou que o clima favorável tem acelerado o ritmo da colheita, tanto que, em menos de três meses de safra, quase ¼ da produção já foi colhida e 46% dessa cana se transformou em açúcar, que em sua maior parte deixou o país. “Para o segundo semestre, é preciso lembrar que teremos menos cana, e, naturalmente, menos etanol, o que irá reduzir o estoque do combustível, cuja a demanda está voltando a crescer.”
O professor comenta que, no início do isolamento, a expectativa era de que a queda de consumo de combustíveis seria de 50% e que o setor não teria condições de estocar tanto etanol. Mas a demanda caiu 30% e o setor produziu mais açúcar, além disso, com a redução do isolamento, o consumo já está sendo retomado. “E, se a pandemia regredir, se o isolamento não voltar a aumentar, a demanda por combustível será ainda maior.”
Com todos esses fatores favoráveis, Fava Neves vê um cenário muito favorável para o setor, inclusive para o produtor de cana, pois, segundo ele, o valor médio da ATR deve fechar em dezembro por R$ 0,70, considerado um bom preço. “Estou muito otimista, acho que o RenovaBio vai decolar e 2020, que com o novo coronavírus parecia ser um desastre, ainda poderá terminar com um bom ano para o setor”, afirma.
Fonte: CanaOnline