Na São Martinho, rede de internet superpotente vai conectar seus 135 mil hectares de canavial
Um projeto, que vem sendo desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem o objetivo de criar uma rede de internet superpotente para o Grupo São Martinho, que trabalhará numa frequência exclusiva.
“As torres de celular possuem baixo alcance, de cerca de 5km. Mas, para uma usina, isso é pouco, pois precisaríamos de centenas de torres para conectar nossos 135 mil hectares. Portanto, está sendo criada uma tecnologia de longo alcance, em que, por meio dela, conseguiremos atingir uma cobertura total de nossa área agrícola com poucas torres”, explica o gestor de inovação da Empresa, Walter Maccheroni.
Segundo ele, no momento em que todos os canaviais estiverem ao alcance das torres e conectados entre si, a coleta de dados, por meio de telemetria, ocorrerá de forma rápida e simplificada. “A ideia é coletar todos os tipos de dados possíveis do campo, como de tratores, de estações meteorológicas, de armadilhas, de sensores de barragem, de canais de vinhaça e de colaboradores. Já pensamos até mesmo em colocar sensores nas canas para saber se elas estão maduras ou se tombaram. Ideias não faltam.”
Uma vez coletados, esses dados serão transmitidos em tempo real, via rede 4G, para a Central de Operações Agrícolas (COA), um escritório que receberá todas as informações do campo, os processando e agilizando, assim, o processo de tomada de decisão. “Nós optamos por uma tecnologia de alta capacidade de transmissão de dados. Com ela, é possível até mesmo a transmissão de vídeos ao vivo direto do campo. O operador pode, por exemplo, ligar a câmera do tablet, mostrar a situação e o gestor, de dentro do escritório, pode auxiliá-lo na manutenção da máquina”, exemplifica Maccheroni.
O intuito da empresa, salienta Maccheroni, é que, a cada dois minutos, as informações sejam transmitidas para o COA. “ Hoje, muitos estão interessados em transmitir pequenos pacotes de dados. Não nós. O que queremos é uma tecnologia que perdure por muitos anos, contemplando não só o hoje, mas o futuro das operações agrícolas, como a adoção de veículos autônomos. Mas, para isso, precisamos de uma rede de alta capacidade de transmissão de dados.”
Um exemplo de como a tecnologia poderá ser de grande ajuda para a empresa é o seguinte: Alguns estudos de análise preditivos conduzidos pela São Martinho ao longo de duas safras em 20 colhedoras indicaram que existe uma relação entre a perda de potência do motor com uma determinada bomba de óleo, ou seja, se ela der problema, dentro de 26 horas o motor da colhedora irá perder potência.
“Se não possuirmos essa rede 4G transmitindo dados em tempo real, receberemos essa informação tarde demais e a colhedora já terá quebrado. Com essa nova tecnologia, iremos receber um aviso no exato momento em que a bomba de óleo quebrar. Assim, já saberemos, com 26 horas de antecedência, que o motor perderá potência. Com a informação em mãos, poderemos organizar o abastecimento e a troca de turno, mobilizar as equipes e realizar a manutenção para que o motor não venha a quebrar.”
A intenção do Grupo é implantar este sistema em suas quatro unidades agroindustriais – três no interior paulista: São Martinho, em Pradópolis, Iracema, em Iracemápolis, Santa Cruz, em Américo Brasiliense; e na Boa Vista, em Quirinópolis, GO – até o ano de 2020. “Parte da pesquisa já está praticamente terminada. Hoje, já temos uma frente de colheita mandando dados em tempo real para a COA, ou seja, a tecnologia está funcionando, porém, ainda falta a validação de alguns dados.”
O projeto não é exclusivo do Grupo São Martinho. O acordo, firmado entre o CPqD e o BNDES, estipula que, após implantada e testada, a tecnologia será liberada para uso das demais empresas do setor sucroenergético nacional. A diferença será apenas na frequência, que mudará de acordo com a usina/agrícola. “Essa é uma tecnologia que proporcionará um novo salto produtivo, não apenas para a São Martinho, mas para todo o setor sucroenergético nacional”, ressalta o gestor de inovação da Empresa.
Maccheroni afirma que o investimento na tecnologia, embora alto, retorna rapidamente para o caixa da empresa. “Se reduzirmos em R$ 1 real o custo da tonelada de cana produzida, pagamos o projeto. Porém, essa é apenas uma ínfima simulação, já que o potencial de redução de custos é muito maior.”
Fonte: CanaOnline