Notícia

Nada de elétricos: por que Brasil continuará sendo a terra dos carros flex

Nada de elétricos: por que Brasil continuará sendo a terra dos carros flex

Em 2020, a Audi já lançou no mercado nacional dois carros elétricos e a Mercedes-Benz, um. O ano passado marcou a chegada do Nissan Leaf, do Renault Zoe e do Jaguar I-Pace. Além disso, a Volvo anunciou que, em breve, toda a sua linha será híbrida - e que irá lançar, em 2021, seu elétrico XC40 Recharge. Com tantos lançamentos, será que o Brasil está sendo encaminhado para um futuro eletrificado a curto prazo? A resposta é: definitivamente não. O número de carros elétricos está sim aumentando, mas principalmente entre as marcas de luxo, com veículos na casa dos R$ 500 mil - portanto, inacessíveis à maioria da população.

Isso é reflexo do que vem ocorrendo na Europa. Em algumas décadas, muitos países vão começar a proibir a circulação de carros novos a combustão. Os elétricos são a aposta das montadoras para responder a esse nova ordem europeia, e elas estão colocando todos os seus esforços no desenvolvimento de modelos do segmento.

Há, inclusive, notícias circulando na Europa de que a Volkswagen planeja vender as marcas de superesportivos Bugatti e Lamborghini para gerar recursos que serão usados no desenvolvimento de carros elétricos. É natural, por isso, que as marcas de luxo europeias estejam bastante interessadas em emplacar esses modelos aqui.

Afinal, essas montadoras não têm desenvolvimento local, e seguem, no mercado brasileiro, as tendências de suas matrizes. Algumas até montam carros aqui, por enquanto, mas com tecnologia quase 100% importada da Europa. E, por lá, a prioridade cada vez mais é modelos eletrificados. Empresas como Audi, BMW, Porsche, Volvo e Volkswagen já estão inclusive desenvolvendo redes de recarga no País, para incentivar o consumo de veículos do segmento.

Mas há especialistas que já apostam que nem na Europa o elétrico é a melhor solução para a proibição ao carro a combustão. Por lá, a maior parte da energia é fornecida por termoelétricas, altamente poluentes. Há ainda o problema ambiental de descarte das baterias. Para alguns, o carro que usa hidrogênio para geração de energia seria a melhor solução.

Quanto aos híbridos, eles deverão ter mais versões nacionais, e até mesmo acessíveis. O Corolla Hybrid foi lançado com preço semelhante ao de seu equivalente a combustão. O Kicks terá sua versão que combina motor flexível a um elétrico. E dá para esperar mais novidades por aí.

Ainda assim, nas próximas décadas o cenário nacional deverá continuar dominado pelo veículo flexível, a etanol e gasolina. Ao menos, quando o assunto é carro produzido em larga escala.

Etanol é a aposta do Brasil

Para o carro elétrico se consolidar, dois fatores são importantes. O primeiro é a proibição do carro a combustão. No Brasil, não há indícios de que isso, como na Europa, irá ocorrer a curto prazo. Mesmo com uma mudança drástica de direção no governo, dificilmente haverá essa imposição.

O segundo fator é o incentivo. Em São Paulo, carros híbridos e elétricos estão livres de rodízio. O Brasil isenta os eletrificados de imposto de importação. Mas é preciso ir além, aplicando isenções de imposto que realmente gerem impacto no preço final.

Isso porque carros híbridos do tipo plug-in (recarregáveis na tomada) e, principalmente, os elétricos, são muitos caros ainda. Antes que ganhem escala, é o incentivo fiscal que os deixa com preços próximos aos que se paga hoje por modelos a combustão.

A principal razão para a falta de incentivo aos elétricos é o etanol. O combustível voltou a ganhar destaque no Brasil com a chegada do carro flexível, no início dos anos 2000. Hoje, é um dos pilares do agronegócio em algumas regiões do Brasil, gera empregos e movimenta a economia.

Proibir o carro a combustão é proibir o carro a etanol, e dificilmente um governo se colocará contra essa indústria. E, se não é tão limpo quanto o carro elétrico, que não gera poluição no escapamento (item que, aliás, não tem), o álcool polui menos que a gasolina.

Tem também seus percalços na produção: as queimadas de cana-de-açúcar, matéria-prima da produção do etanol no Brasil, geram poluição. Mas a tendência é que o combustível passe a ser feito também por meio de outros vegetais, como o milho.

Além da questão ambiental, o etanol tem uma outra vantagem ante a gasolina. É uma fonte renovável. Não há risco de escassez a longo prazo.

É possível (e até bem provável) que o veículo eletrificado (híbrido e elétrico) se torne sim, a curto prazo, o carro-chefe nas linhas das marcas de luxo. Mas será apenas um nicho. Quando o assunto é produção em alta escala, esse tipo de automóvel ainda está muito distante da realidade.



Rafaela Borges
Colunista do UOL
Fonte: UOL Notícias

Notícias relacionadas: