No setor sucroenergético, as mulheres representam menos de 10%, mas crescem nos cargos de liderança
Dados de um estudo sobre a mulher no mercado de trabalho da agroindústria sucroenergética coordenado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), apontam que aparticipação feminina no setor vem variando de 7,65% para 8,8% entre 2000 e 2016.
Os números fazem parte de um estudo mais amplo realizado pelo Cepea - “Mulheres no Agronegócio”, que mostra que a participação feminina no agronegócio cresceu de 24,11% para 27,97% entre 2004 e 2015. Ou seja, a presença das mulheres no setor sucroenergético está bem abaixo que a média do agro.No mundo canavieiro, em 2016, eram 70 mil mulheres empregadas em um cenário de 795 mil pessoas, o que equivale a 8,1% do total.O Grupo Jalles Machado, de Goiás, conta com a maior presença feminina no setor, cerca de 20% do total de seus colaboradores
Sim, é pequeno a participação das mulheres no setor sucroenergético. O lado positivo apontado pelo estudo é que elas passaram a ocupar, de forma mais concentrada, cargos administrativos, na indústria e funções de liderança. Por exemplo, na Biosev, segundo maior grupo sucroenergético do mundo, na safra 2016/17, a força de trabalho da Biosev contou com 1.060 mulheres, o equivalente a 7% do total de colaboradores. Mas elas já respondem por 12% dos cargos de supervisão do grupo e 22% dos cargos de liderança na administração, como gerência e diretoria.
Embora o quadro da companhia seja composto de apenas 7% de mulheres, elas têm o dobro de possibilidades para ocupar cargos de supervisão e o triplo para chegar à gerência. Cerca de 35% da força de trabalho feminina trabalha na agricultura, com condução de tratores, colheidoras e caminhões, além da plantação e do controle de pragas. Aproximadamente 45% das mulheres na Biosev atuam em cargos administrativos e pouco mais de 19% nas áreas industriais.
NaAtvos, nos seis polos produtivos da empresa - localizados nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás – elas somam mais de 1600 mulheres, o que representa 15% do total de colaboradores.
As três áreas em que há maior concentração percentual de mulheres na Atvos são as áreas administrativas (47%), SSMA – Saúde, Segurança e Meio Ambiente (44%) e a área de planejamento e qualidade agrícola (31%). Em números absolutos, o destaque é a área agrícola, que concentra 704 mulheres. Do total de líderes, 7,3% são mulheres. No entanto, nos níveis de coordenação, gerência e diretoria, este percentual atinge 15%.
Voltando ao estudo do Cepea, foi apurado que mesmo entre 2008 e 2016, período de franca retração do setor e, consequentemente, de diminuição no número de empregos, a quantidade de mulheres em cargos administrativos e industriais aumentou 26,8%. Já o número de homens caiu 12,2% no mesmo comparativo.
No entanto, a presença feminina no campo teve uma redução maior, de 60,3%, enquanto a masculina diminuiu 44,4% no mesmo intervalo. Se, em 2000, 74,69% das mulheres do setor estavam na área agrícola, em 2016 o percentual reduziu para 47,82%.
Em 2016, 36,6% do total de mulheres empregadas no setor ocupavam postos administrativos, o equivalente a 25,45 mil. Em 2000, eram 10,61 mil mulheres, ou 21,8%. Já na indústria, o número de mulheres empregadas subiu de 1,7 mil para 10,82 mil no mesmo comparativo. Com isso, do total de mulheres empregadas no setor sucroenergético, a presença na indústria subiu de 3,6% para 15,6%.
O perfil dessas profissionais mudou. Antes, elas eram mais jovens e com menos qualificação. Hoje, são mais qualificadas, na faixa dos 30 anos, e trabalhando preponderantemente em outros elos da cadeia. A mudança pode ser vista também nos dados de escolaridade. Em 2000, 67,7% das mulheres empregadas no setor haviam estudado por apenas cinco anos; em 2016, esse número caiu para 24,4%. Ou seja, houve uma redução de 43,2 pontos percentuais. Entre os homens, essa redução foi de 38,1 pp.
Na outra ponta, a representatividade das mulheres com mais de 13 anos de estudo subiu em 11,8 pp, enquanto para os homens o aumento foi de 2,8 pp no mesmo período. Em números absolutos, a presença feminina na faixa de maior instrução aumentou de 2,6 mil para 12,03 mil entre 2000 e 2016.
Com este cenário, as mulheres tiveram um aumento representativo na média salarial. Conforme os pesquisadores, entre 2000 e 2008 a remuneração média cresceu 26%; já entre 2008 e 2016 ela foi ampliada em 48%.
Mais da metade (52%) das empresas brasileiras não têm programas de igualdade entre mulheres e homens, segundo estudo da Câmara Americana de Comércio (Amcham). Calcula-se que no segmento do agronegócio, em decorrência do tradicionalismo, esse índice seja maior ainda. Então, ainda há muito a conquistar, mas o setor segue a tendência mundial, de maior presença feminina, não por ser mulher, mas por elas estarem se qualificando mais, e as empresas precisam
Fonte: CanaOnline