Notícia

Parceria público-privada consolida a biotecnologia para o setor de cana-de-açúcar no Brasil

Parceria público-privada consolida a biotecnologia para o setor de cana-de-açúcar no Brasil

Da esquerda para direita: Paulo Cezar de Lucca, Guy de Capdeville, Celso Moretti, Carlos Eduardo Pereira e Orlando Melo. Foto: Fernanda Diniz

A Embrapa, Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e a startup PangeiaBiotech assinaram no dia 11 de julho na Sede da Embrapa, convênio de cooperação técnica, que dá continuidade a uma parceria de sucesso na área de biotecnologia vegetal. A união entre as empresas começou em 2017, com o desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar geneticamente modificadas com maior quantidade de biomassa, tolerância a herbicidas para produção de etanol de primeira e segunda geração e resistência à broca da cana, que até então era a pior praga dessa cultura no Brasil. A parceria assinada no dia 11 de julho amplia as pesquisas para controlar outra praga, que vem ganhando importância no cenário agrícola nacional: o bicudo-da-cana (Sphenophorus  levis).

Estiveram presentes à solenidade de assinatura os diretores de Pesquisa e Desenvolvimento, Celso Moretti, e de Inovação e Negócios, Cleber Soares; o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Guy de Capdeville; o diretor de operações da Embrapii, Carlos Eduardo Pereira, o CEO da PangeiaBiotech, Paulo Cezar de Lucca; e o diretor de Diretor do Departamento de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Orlando Melo.

O diretor de P&D afirmou que a criação da Embrapii foi “uma grande sacada” do governo para fazer com que as tecnologias geradas pela pesquisa cheguem com mais rapidez e segurança ao setor produtivo. “Se um dia a Embrapa serviu de exemplo para a Embrapii, hoje a Embrapa se baseia no modelo de atuação da Embrapii para embasar o seu macroprocesso de inovação”, pontuou. Moretti lembrou ainda que a Embrapa é uma “casa de soluções” à disposição do setor produtivo e que a Embrapii tem sido uma parceira fundamental para fortalecer essa interação. “Esse contrato de cooperação é mais um passo para consolidar o papel do Brasil como uma das matrizes energéticas mais sustentáveis do mundo. Para se ter uma ideia, um carro na Europa libera 180 gramas de CO2 por quilômetro rodado. No Brasil, graças à mistura com o etanol, esse índice cai para 85 gramas”, destacou o diretor.

O diretor de Inovação e Negócios, Cleber Soares, enfatizou que a parceria com a Embrapii é vital para a Embrapa e que pretende credenciar outras unidades da Embrapa como parceiras. Em relação à parceria, que envolve também a PangeiaBiotech para desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas com características de interesse para o agro brasileiro, ele acredita que possa ser usada como modelo para outras culturas, como por exemplo, o milho.

O diretor de operações da Embrapii, Carlos Eduardo Pereira, ressaltou que hoje a Empresa conta com 42 unidades e mais de 750 projetos desenvolvidos em parceria com 550 empresas. A Embrapa Agroenergia é a única unidade da Embrapa credenciada na Embrapii e, segundo o chefe-geral, Guy de Capdeville, essa cooperação tem sido fundamental para levar as tecnologias ao setor produtivo. Capdeville comemorou o fato de ter superado a meta imposta pela Empresa com oito projetos de pesquisa já em execução e outro aprovado, a ser iniciado em breve.

A PangeiaBiotech é a única prestadora de serviços de transferência genética do Brasil. Segundo o CEO, Paulo Cezar de Lucca, esse modelo de empresa é bem comum nos Estados Unidos, onde são chamadas de plant transformation facilities. Desde que começou a atuar em 2016, mais de 80 construções genéticas já foram feitas com soja, milho e algodão. A parceria com a Embrapa Agroenergia, a Embrapii e também com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) deu à startup a possibilidade de trazer a biotecnologia para a cultura da cana no Brasil, comemorou de Lucca. Segundo ele, só a broca da cana já causava danos de 3 a 5 bilhões por ano à agricultura brasileira. As plantas resistentes a essa praga, resultantes do primeiro acordo de cooperação assinado com a Embrapa e a Embrapii, já estão prontas e serão testadas no campo da Embrapa Agroenergia na Fazenda Sucupira (campo experimental da Embrapa no Distrito Federal) em setembro de 2019.

Em 2015, o bicudo da cana passou a ser considerada a pior praga dessa cultura não só pelos prejuízos às lavouras, mas também por não ter nenhuma forma de controle no Brasil, nem biológico nem químico. Esse fato chamou a atenção das instituições, que decidiram fazer um novo contrato de cooperação para desenvolver plantas geneticamente modificadas com resistência a esse inseto. Os estudos já estão em desenvolvimento e as primeiras plantas deverão começar a ser testadas no campo em dezembro de 2019.

Consolidação da biotecnologia na cultura da cana no Brasil

O melhoramento genético convencional foi muito importante para o setor canavieiro nacional e fez com que a produção saltasse de 90 milhões de toneladas na década de 1970 para 700 milhões em 2019, ocupando apenas 1% do Território Nacional. As ferramentas biotecnológicas são aliadas do setor produtivo para incrementar ainda mais esse setor, como explicou o pesquisador da Embrapa Agroenergia Hugo Molinari. Segundo ele, a engenharia genética tem potencial para trazer soluções mais rápidas aos principais problemas do setor sucroenergético, que são: ataques de pragas, como a broca, o bicudo e nematoides; estresses abióticos, entre os quais se destaca a seca; mais eficiência no uso de nutrientes, como por exemplo, com variedades tolerantes ao alumínio; aumento do conteúdo de sacarose e tolerância a herbicidas, entre outras.

A biotecnologia já é uma realidade para a cultura da cana no Brasil, destacou o pesquisador. Lembrando que já existem duas variedades geneticamente modificadas liberadas para comercialização e outras 10 já estão com pedidos encaminhados à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

Molinari apresentou um panorama das pesquisas de engenharia genética em desenvolvimento com cana na Embrapa Agroenergia. Entre elas, se destacam variedades geneticamente modificadas com o gene BAHDS, capaz de aumentar em até 34% a quantidade de sacarose em gramíneas, e com o gene MATE (isolado de sorgo na Embrapa Milho e Sorgo) para conferir tolerância a alumínio.  Essas plantas já estão sendo avaliadas no campo experimental da Embrapa Agroenergia na Fazenda Sucupira.

Seleção genômica: potencial para acelerar o melhoramento genético

Bruno Laviola, também pesquisador da Embrapa Agroenergia, apresentou a importância da seleção genômica para acelerar a geração de variedades mais produtivas de cana-de-açúcar. Segundo ele, os estudos genômicos têm potencial para aumentar o ganho genético entre gerações de plantas, reduzir o custo, realizar seleção precoce e reduzir o tempo no lançamento de novas cultivares.

Ainda durante a cerimônia de assinatura do contrato de cooperação, a pesquisadora Patrícia Abrão apresentou a importância de análises em tempo real para avaliar a qualidade da cana. De acordo com ela, esses estudos, desenvolvidos a partir do método de espestroscopia no infravermelho próximo, permite definir características importantes para o melhoramento, já que oferece uma espécie de “fotografia da parede celular da planta”.

Além de pesquisas de engenharia genética, os pesquisadores já estão investindo em técnicas de edição gênica para desenvolvimento de plantas com tolerância à seca, maior teor de sacarose e de biomassa e resistência a diferentes classes de herbicidas. Essa tecnologia inovadora é capaz de modificar o genoma de plantas, animais e microrganismos com mais rapidez, economia e eficiência do que as técnicas convencionalmente utilizadas e mais: sem a necessidade de modificação genética. Por isso, vem revolucionando as pesquisas na área de genética em todo o mundo pela capacidade de editar o DNA e alterar características dos organismos em prol da sociedade.

Fernanda Diniz (MTb 4685/DF) 
Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento (SPD) 

 

Embrapa

Notícias relacionadas: