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Produção de etanol bate recorde e é o maior da história do setor

Produção de etanol bate recorde e é o maior da história do setor

Minas Gerais terá produção de etanol recorde na safra 2018/2019, que termina em março próximo, de 3,24 bilhões de litros, a maior de toda história do setor no estado. O desempenho invejável das usinas representa aumento de 19,5% frente ao volume obtido na safra passada (2017/2018), de 2,71 bilhões de litros. O ritmo das destilarias acompanha consumo também inédito, o que tem permitido preços vantajosos nas bombas, onde o combustível é vendido ao custo de 64,6% da cotação do litro da gasolina.

De acordo com os dados mais recentes coletados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), referentes a novembro de 2018, a participação do etanol hidratado nas vendas de combustíveis do ciclo otto no estado (considerando-se o etanol e a gasolina) ficou em 40%. Trata-se do mais alto percentual já alcançado pelo combustível verde no estado e com performance superior à média nacional, de 31%.

Para Mário Campos, presidente do Sindicato das Indústrias Sucroenergéticas no Estado de Minas Gerais (Siamig), o consumidor mineiro vem encontrando preços de etanol competitivo nas bombas desde maio e tem respondido com consumo crescente. “O etanol hidratado trouxe para os consumidores mineiros em 2018 economia da ordem de R$ 630 milhões. Esse valor seria gasto a mais, caso tivéssemos somente gasolina disponível nas bombas. Mesmo na entressafra, os preços ainda são favoráveis. Na última semana, a relação de preços etanol/gasolina ainda estava na casa dos 64%”, afirma.


De acordo com Renata Marconato, analista do setor sucroalcooleiro da consultoria MB Agro, 2018 foi ano de vendas recordes de etanol hidratado no Brasil. De janeiro a novembro, segundo a ANP, o consumo alcançou 17,2 bilhões de litros, 40% acima do verificado no mesmo período do ano anterior. “Isso ocorreu num ano em que o consumo do ciclo otto caiu 4,7% (de janeiro a novembro) em relação ao ano anterior, devido à crise econômica. O consumo do etanol cresceu pela grande oferta do produto, já que os preços baixos do açúcar no mercado internacional desestimularam as usinas. Elas aumentaram a produção de etanol, em detrimento da produção do adoçante.”

A Índia, que, atualmente, é a primeira produtora global de açúcar, com oferta projetada de 31,5 milhões de toneladas na safra 2018/19, aumentou fortemente sua produção nas últimas safras por meio de preços controlados garantidos aos produtores de cana e subsídios concedidos às usinas. “A União Europeia também teve crescimento da oferta na safra 2017/18 depois da queda das cotas de produção, o que, com o crescimento da oferta de demais países asiáticos, como Tailândia e China, provocaram sobre oferta de açúcar no mercado internacional, pressionando os preços do produto”, observa Renato Marconato.

Paridade

O aumento do consumo de etanol hidratado também refletiu a política de preços de paridade com o mercado internacional adotada pela ANP, que corrige os preços internos em função dos preços de aquisição de gasolina no exterior. “Assim, com a boa oferta, os preços do etanol na bomba ficaram com uma boa paridade de preços em relação a gasolina C, elevando-se a demanda pelo biocombustível”, lembra Renata.

A analista da MB Agro acredita que, na safra 2019/2020, se os preços do petróleo ficarem no patamar atual, a produção do etanol, que se inicia em março, deve ser muito parecida com a atual em termos de oferta de cana-de- açúcar e mix de derivados. Num cenário de expansão da economia neste ano, a demanda pelo etanol deve ser manter boa, com preços firmes. “Ao mesmo tempo, a oferta de açúcar dos principais produtores globais deve ceder, já que os preços estão abaixo do custo de produção em alguns deles, levando a uma recuperação dos preços do açúcar.”

As destilarias de Minas trabalham na atual safra, no limite da produção de etanol, como informa o Siamig. A estimativa da moagem de cana-de-açúcar em Minas Gerais na safra 2018/2019 é de 63,2 milhões de toneladas, redução de 2,7% frente a safra 2017/2018, de 64,9 milhões de toneladas.“Havia a expectativa inicial de moer 65 milhões de toneladas de cana, mas em função de alguns problemas climáticos que tivemos em 2018, verificamos queda muito acentuada da produtividade da cana no segundo semestre, assim, nosso número final será de 63,2 milhões de toneladas de cana”, diz Mário Campos, presidente do sindicato.

Cerca de 63% da cana tem sido destinada à produção de etanol, sendo que os restantes 37% têm sido absorvidas na fabricação de etanol. A estimativa da produção de açúcar é de 3,05 milhões de toneladas, queda de 28% na comparação com os 4,24 milhões de toneladas da safra 2017/2018. Na avaliação de Campos, a tendência para a safra 2019/2020 é de continuar mais alcooleira. Quanto ao volume de cana para moagem, ele dependerá muito da disponibilidade de chuvas, que até o momento têm contribuído, mas é preciso verificar o comportamento do clima de janeiro até março. Uma vez permanecendo, os níveis de chuva visto agora vão permitir colheita de mais cana-de-açúcar.

As empresas têm investido para manter a capacidade produtiva, principalmente do campo. Todos os anos são aplicados ao menos R$ 3 bilhões em Minas entre renovação de canavial, manutenção das áreas de cana, equipamentos agrícolas e manutenção e adequação do parque industrial. “Para 2020, já há duas novas usinas anunciadas. São reativações de empresas que estavam paralisadas e que voltarão a moer. Os investimentos passarão de R$ 700 milhões”, esclarece Mário Campos.

No mercado do açúcar, destaca o presidente da Siamig, há expectativa de redução do excedente de açúcar no mundo, com perspectivas de retomada dos preços históricos do produto a partir do segundo semestre. Com relação ao mercado interno, há boas perspectivas quanto à retomada da economia, com elevação do consumo de combustíveis e impacto no etanol e de energia elétrica com impacto na bioeletricidade.”

O executivo pondera que é muito difícil fazer projeções de preços para combustíveis no Brasil. “São muitos fatores que influenciam, tanto o lado da oferta quanto o lado da demanda. O que podemos afirmar é que a próxima safra, assim como essa, tem uma forte tendência alcooleira. Com a manutenção da grande oferta, teremos em boa parte do ano preços competitivos de etanol para o consumidor mineiro.”

Atenção

Renata Marconato, da consultoria MB Agro, alguns pontos de atenção estão se formando sobre o mercado de açúcar e etanol. A direção dos preços do petróleo, o câmbio e a oferta de etanol de milho dos Estados Unidos são variáveis de alerta para o setor. Isso porque preços do petróleo mais baixos diminuem a viabilidade da produção do etanol, e a oferta de cana é direcionada à produção de açúcar, o que provoca queda nos preços. Se combinado a um câmbio valorizado, estimula a entrada de etanol importado no mercado doméstico, segurando também o preço do etanol. “O reequilíbrio do mercado demora a ocorrer, o que pode impor perdas de receitas a um setor que vem de vários anos de crise”, diz a analista da MB Agro.

Até o momento, a tendência é de que os preços do petróleo não derretam e tomem movimento de alta. A política econômica e comercial do novo governo é também uma incógnita, por enquanto, o que dificulta a sinalização de como devem se comportar os preços neste ano.

RenovaBio puxa investimentos

Para Bruno Wanderley de Freitas, economista sênior da Datagro Consultoria, 2018 foi desafiador para o setor sucroenergético. “Subsídios às exportações na Índia e no Paquistão, mais governos promovendo aumento de impostos sobre bebidas açucaradas, empresas alimentícias investindo em produtos com baixo teor de açúcar, enorme superávit no balanço mundial em 2017/2018, queda dos preços do petróleo e desvalorização das moedas de países emergentes foram alguns dos temas que pesaram sobre o preço do açúcar em Nova York”, destaca.

O analista pondera, no entanto, que o ano não foi marcado apenas por pontos negativos. Na esteira do Acordo de Paris, o Brasil avançou muito com a aprovação do RenovaBio (programa que objetiva traçar estratégia conjunta para reconhecer o papel estratégico de todos os tipos de biocombustíveis na matriz energética brasileira) e a definição das metas de descarbonização já aprovadas até 2028, assim como a regulamentação sobre a certificação das unidades produtoras de biocombustíveis.

O RenovaBio, que deve, na prática, entrar em vigor no início de 2020, traz perspectiva nova da dinâmica do mercado mundial de açúcar, à medida que o programa tende a criar um ambiente mais atrativo para investimentos na expansão e construção de novas usinas no Brasil. Elas deverão quase dobrar a oferta de etanol até 2030, dos atuais 26,7 bilhões de litros para 47,1 bilhões de litros. “Isso ocorrerá, sem esquecer, claro, do impacto que o desenvolvimento do biometano terá sobre a competitividade da indústria sucroenergética”, observa Bruno Freitas.


Por ora, enquanto o RenovaBio ainda é aguardado como um evento de longo prazo, o mercado de açúcar começa 2019 digerindo muitas dúvidas, a começar do potencial de mudança de mix de produção no Centro-Sul do Brasil, o que vai depender muito do comportamento do petróleo e da taxa de câmbio, cuja combinação, neste momento, tem levado a Petrobras a reduzir ainda mais o preço da gasolina na refinaria. “Por enquanto, à medida que os preços do açúcar seguem de lado, as usinas da região Centro-Sul tendem a manter o foco na fabricação de etanol hidratado, ao menos durante o primeiro semestre do ano, enquanto o mundo trabalha na redução dos estoques de açúcar. Restará também decifrar o real tamanho da safra 2018/19 na Índia e na Tailândia, cujos ritmos de produção seguem à frente da temporada anterior neste momento.”


Fonte: Em.com.br

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