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Que bom seria se o governo não atrapalhasse tanto

Que bom seria se o governo não atrapalhasse tanto

Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY assistiu à expiração do contrato de julho, nesta sexta-feira, com uma entrega física de 350 mil toneladas do produto a ser integralmente recebido por uma trading ligada a um produtor brasileiro. Positivamente, uma entrega pequena tira o estresse que pairava sobre o mercado físico acerca da disponibilidade excessiva do produto e pode traçar um limite, quem sabe a partir daqui, de preços. Então a entrega é altista, perguntarão alguns? Não acredito que seja altista, mas é ligeiramente construtiva. O vencimento outubro/2018, que agora passa a ser o primeiro contrato negociado, encerrou a semana a 12.25 centavos de dólar por libra-peso uma queda de 16 pontos, quase 4 dólares por tonelada. A reação do mercado e dos fundos podem contribuir para o aquecimento dos preços e - como sempre ocorre – exagerar na reação. Vamos acompanhar.

Poderíamos até imaginar que a partir de agora o mercado pudesse mostrar um pouco mais de força. Mas, estamos no Brasil e o fantasma do controle de preços da gasolina por parte do governo federal ainda ronda o mercado. As ações da Petrobras negociadas na Bolsa refletem esse temor por parte dos investidores e a promessa de alguns candidatos esquerdistas, como Ciro Gomes (Deus nos livre), que quer o preço da gasolina a R$ 2,80 o litro, demonstra a total irresponsabilidade que a classe política e muitos dos presidenciáveis tem com o dinheiro do contribuinte. Se o Brasil não se livrar dessas pragas populistas nas eleições deste ano vai afundar e levar consigo todo o setor sucroalcooleiro e o RenovaBio de roldão. O setor precisar espernear.

A vulnerabilidade do setor recrudesce em vista à dificuldade de planejamento decorrente da crescente instabilidade econômica, da incerteza política e da insegurança jurídica. Esta última então nos dá arrepios. Como disse o brilhante jornalista J.R.Guzzo, no blog da revista Veja desta semana, essa turma do Supremo Tribunal Federal diz ”que todas as suas sentenças estão de acordo com as leis — mas são eles, e só eles, que decidem o que a lei quer dizer. Se resolverem que dois mais dois são sete, nenhum brasileiro terá o direito de dizer que são quatro”. É essa gente, que nunca teve um voto na vida, que está empurrando o Brasil para o buraco.

Como já dissemos aqui, um investidor que queira colocar dinheiro no setor sob esse cenário de improbabilidades carregado de nuvens recheadas de populismo barato é, no mínimo, corajoso. O senado aprovou uma legislação que permite às usinas venderem diretamente o etanol no varejo. Um verdadeiro tiro no pé travestido de liberalismo. A venda direta aumenta a possibilidade de sonegação, coloca em dúvida a qualidade do produto entregue ao consumidor e, se algum desses problemas vierem à toda, é a imagem do setor (já tratada com falta de apreço por grande parte da imprensa) que vai ser atingida no seu centro nervoso.

Tem alguma boa notícia? Bem, os fundos reduziram a posição vendida a míseros 4.500 lotes. Como esse número corresponde à terça-feira será possível que eles tenham revertido a posição e agora estão comprados? Outro ponto positivo que está no fim do túnel é o preço do petróleo Brent que está a 78 dólares por barril. A Petrobras continua praticando preços internamente abaixo do mercado internacional em cerca de 4% (na média dos últimos 30 dias. Isso pode ser devido à política da empresa de manutenção da fatia de mercado. Mesmo descontando a sazonalidade da gasolina, estimamos que na média das cotações para os próximos doze meses de açúcar e petróleo, assumindo a paridade do etanol em 65%, o biocombustível está equivalente a 220 pontos acima do açúcar no período.

O primeiro semestre fechou com o açúcar líder absoluto de queda das commodities: 19.53%; soja (óleo e grão) caíram 12% e 10%, respectivamente. Café, derreteu 9%. Petróleo subiu 23% e gasolina 20%. Suco de laranja e trigo, 18% e 17%, respectivamente.

As estimativas de moagem no Centro-Sul sinalizam volume abaixo de 540 milhões de toneladas de cana. Acreditamos que caso esse número se consolide, mantidos os níveis atuais do preço do petróleo no mercado internacional, do mix do açúcar ao redor de 40% e da redução da posição dos fundos, podemos ver o mercado tendo um desempenho surpreendente. Nos últimos dez anos, apurando o fechamento diário do açúcar em NY, o preço médio mais alto dos três últimos meses do ano foi superior à média de preços do junho em 80% das vezes.

O dólar mais forte em relação ao real aumentou o endividamento das usinas. Até o final de maio, de acordo com nossa pesquisa e modelagem, as usinas deviam o equivalente a 152 reais por tonelada de cana moída, elevando o endividamento para R$ 92.5 bilhões.

 


Fonte: Archer Consulting

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