Reaparecem interessados em compra de usinas
“Nos últimos 10 anos, este é o momento que mais estou otimista com o setor sucroenergético”, afirma Antonio Cesar Salibe, presidente-executivo da União Nacional da Bioenergia (Udop). Segundo Salibe, este seu entusiasmo se deve as boas perspectivas para o setor nos próximos anos, que tem como alicerce uma demanda alta de etanol, mas principalmente o programa RenovaBio, que será implementado a partir de 1 de janeiro de 2020.
Salibe observa que, por décadas faltou ao Brasil uma política de Estado voltada para a garantia do suprimento de energia, insumo essencial para o desenvolvimento e crescimento em todos os aspectos. “Hoje, com o RenovaBio - Política Nacional dos Biocombustíveis -, vivemos um parágrafo da história que pode representar uma daquelas revoluções que ficarão gravadas por todo o futuro.”
Para o Presidente-Executivo da Udop, com o RenovaBio, o setor terá pela frente o grande desafio de quase dobrar sua produção de etanol, dos atuais 28 bilhões de litros de etanol para cerca de 48 bilhões de litros, o que demandará num vultuoso investimento em pesquisa e tecnologia, ganhos de produtividade no campo e nas indústrias, diminuição de custos de produção e aumento eficaz dos ganhos energéticos com menor emissão de gases de efeito estufa, dentre outros desafios.
“Fazia 10 anos que eu não ficava tão otimista com o setor”, conta Salibe
“Percebo uma motivação que se assemelha a ocorrida em 2003, quando teve início a expansão do setor, porém com uma grande diferença, agora será de uma forma sustentável, com base sólida, estruturada pelas diretrizes do RenovaBio. A grande expansão que o setor viveu de 2003 a 2010, foi motivada por um doidivanas [ex-presidente Lula] que insuflou os investimentos com a promessa de que o Brasil iria conquistar o mundo com o combustível verde, mas depois trocou o etanol pelo pré-sal, deixando o setor endividado, com excesso de produção e sem mercado comprador.”
Salibe salienta que os investidores estão percebendo essa retomada consciente do setor, tanto que voltam a fazer consultas, sondagens para compra de usinas ou parcerias. “Por quase quase 10 anos, ninguém demonstrou interesse por comprar usinas. Os investidores haviam esquecido do setor, mas agora as consultas estão voltando e com o andamento do RenovaBio, vai aumentar ainda mais.”
“O dono de usina que quer fechar negócio não deve inflacionar o preço colocando a expectativa de retomada do setor, precisa ser o valor real”, diz Françóia
Marcos Françóia, diretor da MBF Agribusiness, Assessoria, Gestão e Monitoramento, com sede em Sertãozinho, SP, afirma que o interesse dos investidores pelo setor está voltando. “Já há muitas consultas para compra de usinas”, diz. Segundo ele, há muitas oportunidades no setor, pois são mais de 80 unidades em recuperação judicial e 60% das usinas estão altamente endividadas e buscam investidores ´não só para se manterem no negócio, mas para aproveitar as oportunidades que virão com o RenovaBio.
Mas, de acordo com Françóia, o que muitas vezes dificulta a venda é o valor inflacionado pedido pelo vendedor. “Muitos donos de usina projetam no preço a expectativa de recuperação do setor e não o valor atual do que está vendendo. E, em muitos casos, não percebem que não têm mais saída, que o momento deles já passou, que não têm mais crédito, que não vão conseguir mais rolar as dívidas e que, a cada dia que passa, a situação piora. Então, é importante ser sensato e não perder as oportunidades”, aconselha.