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Setor bate recorde no volume de açúcar fixado para próxima safra

Setor bate recorde no volume de açúcar fixado para próxima safra

 Estimando a exportação brasileira em 25 milhões de toneladas de açúcar, para a safra 21/22, o percentual de fixação é de 22.5%

*Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira cotado a 12.60 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento outubro/2020, uma queda de 23 pontos em relação à semana anterior. Diferentemente das semanas anteriores, em que a maior pressão ocorrera nos contratos com vencimentos mais longos, desta feita, os vencimentos mais curtos foram aqueles que experimentaram variações negativas na semana. Pode ser que os fundos estejam rolando suas posições compradas no outubro para o vencimento seguinte e isso trouxe um impacto maior em uma semana em que nada de interessante ocorreu.

O destaque da semana pode ser dado ao desempenho do real que se valorizou em 3.70% em relação ao dólar na semana encerrando a R$ 5.4100 comparado à cotação da sexta-feira passada. Deve ter sido ajudado pela notícia que circulou no mercado financeiro de que o Bank Of America aposta na valorização do real para o nível de R$ 5,2000 até o final do ano. Tem muita água para passar debaixo da ponte até dezembro e haja exercício de futurologia para tentar prever os próximos meses com as instabilidades políticas do Brasil, mais as eleições americanas, mais a análise dos números de consumo de açúcar e combustível aqui e no mundo, que devem mostrar a extensão do buraco em que estamos enfiados,  sem falar no coronavirus que assusta com sua possível segunda onda.

Os valores do açúcar em NY convertidos em reais por tonelada caíram R$ 85 por tonelada para os vencimentos da 20/21, R$ 55 por tonelada de queda na 21/22 e R$ 35 de queda para a safra 22/23. Isso reforça o nosso sempre contundente argumento de que as fixações de açúcar em reais por tonelada têm sido há muito tempo a melhor escolha para as usinas.

O contrato de etanol hidratado na B3 tem negociado com um desconto médio de 125 pontos contra NY na equivalência com o açúcar. O spread entre açúcar e etanol estreitou na última semana. A Petrobras pode, se quiser, aumentar a gasolina em até R$ 0,25 por litro para ficar em linha com o mercado internacional. De certa forma, essa possibilidade abre espaço para a antecipação de compras de etanol estabelecendo um suporte nos preços.

O que surpreende de certa forma, é que os fundos adicionaram mais 10,445 lotes comprados à posição que agora totaliza 189,694 (pouco mais de 9.5 milhões de toneladas de açúcar equivalente). E o mercado, enquanto isso, caiu 13 pontos (de terça a terça).

Enquanto isso, o volume de açúcar fixado estimado para a próxima safra até o final de julho alcança 5,625 milhões de toneladas ao preço médio apurado de 12.19 centavos de dólar por libra-peso, sem considerar o prêmio de polarização. 

Estimando a exportação brasileira em 25 milhões de toneladas de açúcar, para a safra 21/22, o percentual de fixação é de 22.5%, número que não encontra precedentes em relação às safras anteriores, pois as usinas jamais se anteciparam dessa maneira para a fixação de uma safra que só se inicia no ano que vem. O valor médio da fixação é de R$ 1,447.60 por tonelada FOB Santos, equivalentes a R$ 0,6301 por libra-peso, ambas já incluindo o prêmio de polarização. Nossa estimativa é que no final do mês de julho cerca de 5% da safra 2022/2023 já estava fixada pelas usinas.

Muitos traders contestam que o percentual de fixação divulgado pela Archer Consulting está abaixo do mercado. Lembro que os modelos não são perfeitos. Mas, para adicionar mais um dado à discussão, podemos dizer que 1/4 das usinas está fixada em 46%, enquanto os ¾ restantes estão fixadas em cerca de 15% (um menor percentual em função de restrições creditícias e contratuais).

Então, está combinado: de um lado temos os fundos que estão comprados 9.6 milhões de toneladas de açúcar, mais o Brasil que ainda vai precisar fixar 19.4 milhões de toneladas para a safra 20/21, perfazendo aí 29 milhões de toneladas de açúcar que em algum momento terão que ser liquidadas (no caso dos fundos) ou vendidas (no caso das usinas, para fixarem seus açúcares para a exportação). Um total de 571,000 contratos e do outro vamos ter quem mesmo para comprar tudo isso? Essa é a pergunta para a qual buscamos a resposta já há algumas semanas. Continuamos com a visão de que a posição dos fundos é extremamente frágil.

 


*Arnaldo Luiz Corrêa, diretor da Archer Consulting

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