UM PARADOXO PREOCUPANTE
O mercado futuro de açúcar fechou a sexta-feira com o vencimento outubro/2017 negociado a 14.14 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 23 pontos, ou cinco dólares por tonelada, em relação à semana anterior.
O mercado foi surpreendido pelo tal de fat-finger, uma situação em que se aperta a tecla errada na hora de preencher o preço de uma ordem de compra ou de venda dada no mercado fazendo com que este oscile de maneira violenta até que, depois do erro absorvido, volte aos níveis anteriores. Com isso, tivemos o outubro negociando por alguns milésimos de segundo a 13,92 centavos de dólar por libra-peso. Inacreditável que com tantos sistemas sofisticados e algoritmos, erros como esse não são imediatamente detectados e coibidos pela bolsa.
Os fundos estão voltando lentamente às compras nas soft commodities (açúcar, café, cacau, algodão e suco de laranja) e isso pode trazer suporte aos níveis de preço do açúcar. Nesta sexta-feira, a divulgação dos compromissos dos comitentes considerados até a terça passada, mostra que os fundos recompraram 35.000 lotes, mas ainda estão vendidos no açúcar cerca de 72.000 lotes ou 3.6 milhões de toneladas de açúcar equivalente, reforçando o que dissemos anteriormente.
Com o encerramento do mês de julho, o preço médio apurado do fechamento diário do contrato futuro de NY foi de 14.12 centavos de dólar por libra-peso, 4.35 % superior àquele verificado no mês de junho. Nos últimos dezoito anos provou-se que os preços médios observados no período de abril-maio-junho-julho são inferiores ao preço médio mensal mais alto do ano. Em resumo, podemos afirmar com razoável probabilidade de acerto que já vimos o preço mais baixo deste ano, ocorrido no final de junho: 12.53 centavos de dólar por libra-peso.
Nosso modelo de previsão de preços apontava que o preço médio de julho seria de 14.28 centavos de dólar por libra-peso. O mercado potencializou a queda e, observando o início de agosto, queremos crer que o preço médio deste mês pode surpreender. O modelo aponta que no início do último trimestre de 2017 NY pode atingir a média de 16.56 centavos de dólar por libra-peso com eventual pico até 18.02 centavos de dólar por libra-peso naquele mês. Nunca se esqueça que modelos falham e a atuação dos fundos, dependendo do fluxo, fazem o mercado exagerar em ambas as direções.
Com a votação no Congresso pela não continuidade da abertura do processo contra Temer, diminui a instabilidade política e abre espaço para a aprovação das reformas. Este ambiente favorável pode significar um real mais valorizado. 2018 trará enormes incertezas por se configurar em ano de eleição presidencial e, a menos que se queira passar por vexames, é melhor não se fazer previsão. No entanto, com Lula na cadeia (hipótese mais viável) e a esquerda enfraquecida, a possibilidade de termos vários candidatos com menos de 20% dos votos, abre um enorme leque para candidaturas preocupantes e qualquer resultado é possível. E o mundo tem mostrado isso.
Vamos imaginar que ganhe força na disputa presidencial no ano que vem um candidato que seja pró-mercado, liberal, que introduza uma política econômica não intervencionista. O que aconteceria, neste caso, com o real valorizado? E se, além disso, o mercado internacional do petróleo negociasse entre 40-45 dólares por barril? Para o setor sucroalcooleiro seria extremamente preocupante.
Real forte e petróleo fraco detonariam o preço do etanol, aumentando a oferta de açúcar e pressionando as cotações da commodity na bolsa. Por outro lado, é verdade que um governo pró-mercado traria crescimento de renda e consumo que poderiam contrapor o cenário de preços pressionados do etanol. É sempre bom lembrar que o consumo de combustíveis aumenta exponencialmente mais do que o PIB quando este cresce.
Como se preparar para essa possibilidade? Alguns bancos e instituições devem estar se preparando para brevemente oferecer operações estruturadas referenciadas em bolsas com esta finalidade. Uma delas pode ser a compra de uma put (opção de venda) financiada com a venda de uma call (opção de compra) de gasolina (RBOB) em reais para travar um valor mínimo para o etanol (assumindo que este negocia na paridade de 70%).
O setor pode viver um paradoxo importante no ano que vem. Existem diversas operações que podem ser elaboradas a partir da necessidade de cada usina, o que não pode é ficar olhando para a tela e torcendo para os preços melhorarem. É um momento crucial para as empresas prestarem atenção à gestão de risco. Sem ela não há salvação.
A eleição de um presidente moderno pode trazer céu estrelado para a economia brasileira, mas existe a possibilidade de nuvens carregadas pairarem sobre o setor. É prudente se antecipar a essa possibilidade.
Para você que perdeu as incrições para o 28° Curso, não se desespere. Em março de 2018 tem outro.
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Bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
Fonte: Archer Consulting